segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

HOMEM CÁLIDO







No jardim dos alecrins
Solitária, espero-te
Tu, meu homem cálido, que já tardas tanto
Deixando-me cá calada
Sentada num banco
Divagando ardente em lembranças saudosas
Daquelas noites de outrora
Que não quero
Deixá-las esvaecerem
Na memória
Tornarem-se apenas
Sonho difuso
Opaco
Envolto em brumas
Que o tempo traz

Ó meu homem cálido!
Vim sem nada por baixo
Os botões do sobretudo
Desabotoei todos
Cá neste ermo jardim
Sereno, esquecido
Meu corpo se mostra 
Nu
Ardente a te esperar
Como tantas vezes o vira
E o teve
Naquelas noites de outrora
Que as tanto quero
De volta

Minha boca te espera
Para beijar-me
Matar minha sede
Que a água não mata
Meus seios te esperam
Para acolher-te
Brincar com teus lábios
E língua
Minhas coxas, ancas, dorso
Esperam-te
Como teu parque
Para que neles passeies
Como bem queiras
Meu sexo aflora
E espera-te
Como tua casa
Para aninhar-te
Desejoso do teu corpo
Sobre o meu
Dentro do meu
A comprimir-se
Saciando minha extrema saudade

Ó meu homem cálido!
O quão me tornou voluptuosa
Queimando em chamas
Tua ausência que se demora

Chego a ser devassa
Despudorada
Meretriz
Em meus devaneios solitários
Lembrando-te, banhada em suores
Ofegante
Quando como um vulcão de virilidade,
Insaciável, me possuías
Como tua Ambrósia
Segurando-me pela cintura
Desflorando-me por trás
Sem tanto respeitar-me
Puxando-me pelos cabelos
Sussurrando dizeres safados
Arteiros e meigos
Enquanto lambias minhas costas
Mordiscando-a, cobrindo-a de beijos
Apertando-me e arranhando-me

Quando eu era
Tua comida
Que faminto devoravas
Lambendo depois os beiços
Ao repousar aninhado em meus seios
Contente e satisfeito
Até não mais do que meia hora
Quando tudo se repetia

Ah! Tu meu homem cálido!
Em nossos momentos
Nunca se melindrou comigo
Esperando por qualquer autorização
Ou dela precisou
Para fazer tudo o que bem querias
Por mais dissoluto que fosse
Tão somente ia e fazia
De todo seguro, com autoridade inquestionável de mestre
Por saber que vindo de ti
Tudo era desavergonhadamente
Vertiginosamente
Escandalosamente
De-li-ci-o-so
E sempre me satisfazia
Eu que era assim inteiramente
Tua fêmea submissa
Serva das tuas vontades
Tu mandando, eu obedecendo
E agradecendo aos céus
Ter a ti como meu senhor

Como nunca careci pedir a ti
Que fizesse isso ou aquilo
Em nossas horas sagradas
Tu de antemão o fazias
O que eu queria já sabias
Ao meu gosto com exatidão
Enlouquecendo-me
Em cada pêlo, poro
Víscera, pensamento
E gota de suor escorrida

Desavergonhadamente
Escandalosamente
Vertiginosamente
Tanto e tão perfeitamente
Completamos-nos na cama
Deliciosamente bem nos dando
E ainda de Amor tão grande e verdadeiro nos amando
Que, ó, meu homem cálido!
Ohhhhhhh...
Desnuda te espero
Ofegante
Aqui neste jardim ermo
Sentada num banco
Ardendo em chamas
Tomada por saudade extrema
Para que logo venhas
E me tenhas na grama

Acaso nos verem assim
Como dois animais selvagemente
Amando-nos no cio entre os matos
Abençoado será o escândalo desavergonhado
Porque sei será
Desavergonhadamente, escandalosamente
De-li-ci-o-so, bem aventurado
Valendo a pena
Qualquer seja

Ó meu homem cálido!
Ohhhhhhh...
Lânguida
Cerrando os olhos turvos em gozo
Para ver-te
Ardo como fogo em brasa
Suspirando, estremecendo
Arrepiando-me, gemendo secretamente

Despudoradamente
Quero-te!
Preciso-te!
Espero-te!

Venha logo
Não tarde...

Apaixonadamente


Rob Azevedo

Nenhum comentário: