Nenhuma mulher queria
Napoleão quando ele ainda não era Napoleão, era só um generalzinho de
1m60cm de altura que, segundo seus colegas de farda, ficava ridículo
dentro das botas de cano longo do exército francês. O próprio Napoleão
relatou em seu diário que nada menos do que seis damas parisienses
rechaçaram seus pedidos de casamento nessa época. Inclusive algumas
muito feias. Inclusive uma que tinha 60 anos de idade (ele, 20).
Mas
depois Napoleão ficou famoso, rico, poderoso e, pelo jeito, muito mais
bonito, porque as mulheres passaram a desejá-lo com ardor. As mais
lindas não apenas da França, do mundo inteiro, ansiavam por ser
conquistadas pelo conquistador da Europa. Napoleão teve austríacas,
alemãs, russas e egípcias.
Quando
Napoleão fez sua entrada triunfal em Varsóvia, uma bela jovem polonesa
rompeu o bloqueio da soldadama para se apresentar diante dele, o peito
arfante mal contido pelo decote profundo como uma tese de Wittgenstein,
dizendo-se uma patriota que queria reivindicar em favor de seu país.
Napoleão
resolveu ouvir as reivindicações com calma, em particular. À noite, um
zeloso oficial francês conduziu a moça ao recôndito de seus aposentos.
Ela entrou, tímida feito uma colegial, esfregando as alvas mãos.
Napoleão começou a salivar. Maria Waleska, esse o nome da polaquinha,
era loira, formosa e uma cabeça mais alta do que o imperador. Ostentava o
título de condessa. Confessou que seus compatriotas, inclusive o conde
seu marido, pediram que ela usasse seus encantos para intervir pela
independência da Polônia.
— O
país todo está me atirando em seus braços — gemeu, e recuando um passo,
como se estivesse entre temente e indefesa, acrescentou: — E eu sei que
o senhor sempre toma o que pretende tomar.
Napoleão,
claro, adorou aquilo. Pulou em cima da condessa como se ela fosse um
naco de Camembert e a possuiu durante toda a noite, fazendo o que bem
quis, como quis e onde quis. Foi um tanto violento, de acordo com o
relato posterior da própria Maria Waleska. Mas ela gostou. Apaixonou-se
pelo imperador, e ele por ela. Tiveram até um filho. Dizem que foi a
mulher que Napoleão mais amou, e há indícios escritos de tanto
sentimento. Depois de sua passagem pela Polônia, na aridez do campo de
batalha, as cartas que ele lhe endereçava pulsavam de paixão carnal.
Maria
Waleska venceu, portanto. Como conseguiu? Empregou os ardis das
mulheres novas, bonitas e carinhosas, que sempre fazem os homens gemer
sem sentir dor. Waleska se ofereceu a Napoleão como uma presa.
Entregou-se a ele alegando que não podia fazer mais nada, a não ser se
entregar. Era inevitável, ciciava Waleska: se Napoleão quisesse tomá-la,
tomá-la-ia. Como a tomou. Só que, na verdade, era ela que o tomava.
Em
resumo, Maria Waleska jogou no contra-ataque. Esperou que Napoleão
atacasse, ele atacou e ela o conquistou. Esse o ensinamento da bela
polonesa: quando se lida com os grandes, há que se jogar no contragolpe.
É assim que se vence um campeonato como o Brasileiro, em que há uma
dúzia de grandes: negaceando, dissimulando e simulando. Jogando no
contra-ataque. É como se forma um campeão. Ou, no caso de Maria Waleska,
uma campeã.