quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

RENDA-SE




Renda-se como eu me rendi. 
Mergulhe no que você não conhece, 
como eu mergulhei. 
Pergunte, sem querer a resposta, 
como estou perguntando.
 Não se preocupe em "entender". 
Viver ultrapassa todo o entendimento.

Clarice Lispector

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

FELICIDADE

Einstein e seu terapeuta.





“Felicidade em pessoas inteligentes é a coisa mais rara que eu conheço.” 

 

Hemingway




Esta postagem foi retirada daqui:  http://excentricidadeseesquisitices.blogspot.com.br/2012/07/felicidade-em-pessoas-inteligentes-e.html#links      Muito bom o blog, vale a pena visitar.

VIVER NÃO TEM CURA




Leite, leitura
letras, literatura
tudo o que passa
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo, tudo, tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura.

(Paulo Leminsk)

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

MULHER LOUCA





Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar o nosso poder de sedução para encontrar the big one, aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais. Uma tarefa que dá prá ocupar uma vida, não é mesmo? Mas além disso, temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo pro alto e embarcar num navio pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar loura e cafetina, ou sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.
Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascina a todos.
Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota.
Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só se for louca de pedra.
 

Martha Medeiros

DEUSA NEGRA





Eu sou as trevas por trás e por baixo das sombras.
Eu sou a ausência de ar que espera no início de cada respiração.
Eu sou o fim antes que a vida recomece, a deterioração que fertiliza o que vive.
Eu sou o poço sem fundo, o esforço sem fim para reivindicar o que é negado.
Eu sou a chave que destranca todas as portas.
Eu sou a glória da descoberta, pois eu sou o que está escondido, segregado e proibido.
Venha a mim na Lua Negra e veja o que não pode ser visto, encare o terror que é só seu.
Nade até mim através dos mais negros oceanos, até o centro de seus maiores medos. Eu e o Deus das trevas o manteremos em segurança.
Grite para nós em terror e seu será o poder de suportar o insuportável.
Pense em mim quando sentir prazer e eu o intensificarei. Até o dia em que eu terei o maior prazer de encontrá-lo na encruzilhada entre os mundos.
Sabedoria e a capacidade de dar poderes são os meus presentes.
Ouça-me, criança, e conheça-me por quem eu sou. Eu tenho estado com você desde o seu nascimento e ficarei com você até que você retorne a mim no crepúsculo final.
Eu sou a amante apaixonada e sedutora que inspira o poeta a sonhar.
Eu sou aquela que te chama ao fim de sua jornada. Quando o dia se vai, minhas crianças encontram seu descanso abençoado em meus braços.
Eu sou o útero do qual todas as coisas nascem.
Eu sou o sombrio, silencioso túmulo; todas as coisas devem vir a mim e suportar a morte e o renascer para o todo.
Eu sou a Bruxa que não será governada, a tecelã do tempo, a professora dos mistérios.
Eu corto as linhas que trazem minhas crianças até mim. Eu corto as gargantas dos cruéis e bebo o sangue daqueles sem coração. Engula seu medo e venha até mim, e você descobrirá a verdadeira beleza, força e coragem.
Eu sou a fúria que dilacera a carne da injustiça.
Eu sou a forja incandescente que transforma seus demônios internos em ferramentas de poder. Abra-se a meu abraço e domínio.
Eu sou a espada resplandescente que te protege do mal.
Eu sou o cadinho no qual todos os seus aspectos se misturam em um arco-íris de união.
Eu sou as profundezas aveludadas do céu noturno, as brumas rodopiantes da meia-noite, coberta de mistério.
Eu sou a crisálida na qual você irá encarar o que te apavora e da qual você irá florescer vibrante e renovada.
Procure por mim nas encruzilhadas e você será transformada, pois uma vez que você olhe para meu rosto não existe volta.
Eu sou o fogo que beija as algemas e as leva embora.
Eu sou o caldeirão no qual todos os opostos crescem para se conhecer de verdade.
Eu sou a teia que conecta todas as coisas.
Eu sou a curadora de todas as feridas, a guerreira que corrije todos os erros a seu tempo.
Eu faço o fraco forte. Eu faço humilde o arrogante. Eu ergo o oprimido e dou poderes ao desprivilegiado. Eu sou a justiça temperada com compaixão.
Eu sou você, eu sou parte de você, estou dentro de você.
Me procure dentro e fora e você será forte. Conheça-me, aventure-se nas trevas para que você possa acordar com equilíbrio, iluminação e plenitude.
Leve meu amor consigo a toda parte e encontre o poder interior para ser quem você quiser.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

PADRÕES SOCIAIS






A vida há de nos cobrar duramente por considerarmos
pecado o amor que não se enquadra em nossa visão
mesquinha; por querermos medir comportamentos
segundo nossos padrões poucos generosos; por
querermos prender, humilhar, podar todo o
relacionamento que não se adapta à medida da nossa
ignorância e dos nossos farisaicos valores.
Porque o amor, do jeito que pode ser, é o caminho da
liberdade e da grandeza – é a nossa única
possibilidade de salvação.


Lya Luft - Um Tema Tão Delicado - Pensar é Transgredir

domingo, 27 de janeiro de 2013

FOI BONITO





"Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás." 



Caio Fernando Abreu.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

ETERNIDADE



(...) Ao tempo
devorador dos rumos:
saiba que a vida
é a infância da imortalidade,
e se não for hoje,
nem amanhã,
ainda temos toda a eternidade.

- Victor Branelli -

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

AMÉLIA É QUE ERA MULHER DE VERDADE



Fabrício Carpinejar
MULHER SEM VÍRGULA

Tenho amigas lindas, inteligentes, divertidas e independentes sem namorado. E sabe por que elas estão sem namorado?

Porque são lindas, inteligentes, divertidas e independentes.

O homem ainda tem medo da mulher com autonomia. Da mulher que não dependa dele financeiramente.

Da mulher que faz piada, e não somente ri das piadas dele.

Da mulher que fala abertamente de sexo.

Da mulher que precisa de sexo e gosta de sexo.

Da mulher que se veste bem e tem ideologia.

Da mulher exigente, que não aceitará cantada com erros de português.

Da mulher educada, que não leva desaforo para casa.

Da mulher resolvida, mãe, viajada, informada, leal aos amigos.

Homem tem medo de alguém que vai desafiá-lo socialmente, intelectualmente, profissionalmente.

Tem medo de perder na conversa (mas amor é perder mesmo, de qualquer jeito).

Homem tem medo de mulher com opinião, que discorde dele na frente dos amigos, na frente da família.

Homem tem medo de ser passado para trás e daí não anda para frente.

Homem ainda deseja Amélia, a figura submissa, obediente, que se esconde no romantismo e dentro de um casamento.

Até quando?
 
Minha opinião:  Sou mulher sem vírgulas sim!!!  E concordo com quase tudo o que o Fabrício disse.  Busco sempre meu aprimoramento pessoal e acho que temos mesmo que correr atrás de nossos objetivos, sem esperar ou colocá-los nas mãos de um homem.  Mas, ao mesmo tempo, tenho um lado bastante Amélia. Não no sentido de ser capacho de homem e não ter minha própria opinião. Mas sim, porque isso está ancestralmente em meu sangue, e quero sim um homem forte, inteligente, e que me dê a oportunidade de ser também frágil e precisar de colo e proteção.   Sentir naquele abraço uma fortaleza em volta de mim e poder baixar a guarda de vez em quando.  Ser mulher forte, mas frágil na minha condição de fêmea. É uma pena que (a maioria) os homens não enxergam assim uma mulher forte.  Talvez, estamos no comportando assim, justamente por não haver mais homens no mercado com o ingrediente necessário para continuarmos sendo doces e amáveis...

SINTO





“Uma vez eu irei. 
Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. 
O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações. 
Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. 
Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. 
Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. 
De tigre, eu preferiria. 
Meu corpo, esse serei obrigada a levar. 
Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. 
E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. 
Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. 
Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. 
Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto — serei ainda eu, horrivelmente esperta. 
Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. 
Para voltar de ‘dois e dois são quatro’ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou! 
Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo. 
Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto...”
Clarice Lispector

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

SILÊNCIO








Um pouco de silêncio - Lya Luft

Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.

Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam connosco nem nos interessam.

Não há perdão nem amnistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço da sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.

O normal é ser actualizado, produtivo e bem informado. É indispensável circular, ser bem-relacionado. Quem não corre com a manada, praticamente nem existe. Se não tomar cuidado, põem-no numa jaula: um animal estranho.

Pressionados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo – ou por trilhos determinados – como hamsteres que se alimentam da sua própria agitação.

Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença. Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo ameaça quem apanha um susto de cada vez que examina a sua alma.

Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não «se arranjou» ninguém – como se a amizade ou o amor se «arranjasse» numa loja.

Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude. Pensamos logo em depressão: quem sabe terapia e antidepressivos? Uma criança que não brinca ou salta ou participa de actividades frenéticas está com algum problema.

O silêncio assusta-nos por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incómodas e mal-resolvidas, ou se observa outro ângulo de nós mesmos. Damo-nos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre a casa, o trabalho e o bar, a praia ou o campo.

Existe em nós, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo para além desse que paga contas, faz amor, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso é só para os outros!) vai morrer. Quem é esse que afinal sou eu? Quais os seus desejos e medos, os seus projectos e sonhos?

No susto que essa ideia provoca, queremos ruído, ruídos. Chegamos a casa e ligamos a televisão antes de largarmos a carteira ou a pasta. Não é para assistirmos a um programa: é pela distracção.

O silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconcerto nosso. Com medo de vermos quem – ou o que – somos, adiamos o confronto com a nossa alma sem máscaras.

Mas, se aprendermos a gostar um pouco de sossego, descobrimos – em nós e no outro – regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente negativas.

Nunca esqueci a experiência de quando alguém me pôs a mão no meu ombro de criança e disse:

— Fica quietinha um momento só, escuta a chuva a chegar.

E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela nos refazemos para voltarmos mais inteiros ao convívio, às tantas frases, às tarefas, aos amores.

Então, por favor, dêem-me isso: um pouco de silêncio bom, para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito para além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.


Lya Luft
Pensar é transgredir
Lisboa, Presença, 2005
Texto adaptado

FATÍDICO ANSEIO





Você quer saber?
Quer saber mesmo?
Pois o meu maior anseio,
É o mais simples que se possa imaginar;
É aquele que nenhum dinheiro pode comprar;
O meu anseio esta onde ninguém procura;
Esta no meu silêncio;
Nas palavras que não ouso pronunciar;
Está no meu olhar...
Deveras até nas páginas solitárias de uma livro;
Que folheio acariciando;
Sentindo o cheiro das páginas que conversam comigo;
Ele baila naquela melodia que me envolve e dança comigo;
E eu me entrego leve, ao ritmo da canção;
Ele está no meu aconchego;
Que me trás a sensação de proteção;
Mesmo que seja falsa;
Ha, ele sempre esta naquela poesia;
Que fala com minha alma e diz coisas que nem eu sabia sobre mim;
Ele fica escondido, guardado, debaixo de sete chaves;
Dentro de mim;
Trancafiado, amordaçado, algemado e vendado.
Mas de que adianta...
Toda essa proteção;
Se o que ele usa para ser livre;
É algo que não se pode engaiolar;
Ele usa o sentimento;
Esse fatídico anseio meu;
Chamado AMOR.


Waleska Raquel

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

CALCINHA...



                   Mulher feita de Palavras


                     (por Calcinha Exocet)

As palavras invadem minha vida
Irrompem em meu peito
De tal forma
Até me fecundar de emoção
As palavras circulam em minhas veias
Irrigam meu cérebro
Deixam-me enrubescida
Ao se inscreverem em minha pele
Transpiro interrogações, exclamações, reticências
Alimento-me de pronomes, substantivos, verbos, adjetivos, advérbios, conjunções
Encontro-me completamente aberta
Entregue e sem medo de críticas
E pensei que isso aconteceria apenas uma vez em minha vida
Quando me metamorfoseava em borboleta

INDIFERENÇA





Todos os jardins deviam ser fechados, com altos muros de um cinza muito pálido, onde uma fonte pudesse cantar sozinha entre o vermelho dos cravos. O que mata um jardim não é mesmo alguma ausência nem o abandono... O que mata um jardim é esse olhar vazio de quem por eles passa indiferente. 

Mário Quintana

CONTRA-ATAQUE




Nenhuma mulher queria Napoleão quando ele ainda não era Napoleão, era só um generalzinho de 1m60cm de altura que, segundo seus colegas de farda, ficava ridículo dentro das botas de cano longo do exército francês. O próprio Napoleão relatou em seu diário que nada menos do que seis damas parisienses rechaçaram seus pedidos de casamento nessa época. Inclusive algumas muito feias. Inclusive uma que tinha 60 anos de idade (ele, 20).
Mas depois Napoleão ficou famoso, rico, poderoso e, pelo jeito, muito mais bonito, porque as mulheres passaram a desejá-lo com ardor. As mais lindas não apenas da França, do mundo inteiro, ansiavam por ser conquistadas pelo conquistador da Europa. Napoleão teve austríacas, alemãs, russas e egípcias.
Quando Napoleão fez sua entrada triunfal em Varsóvia, uma bela jovem polonesa rompeu o bloqueio da soldadama para se apresentar diante dele, o peito arfante mal contido pelo decote profundo como uma tese de Wittgenstein, dizendo-se uma patriota que queria reivindicar em favor de seu país.
Napoleão resolveu ouvir as reivindicações com calma, em particular. À noite, um zeloso oficial francês conduziu a moça ao recôndito de seus aposentos. Ela entrou, tímida feito uma colegial, esfregando as alvas mãos. Napoleão começou a salivar. Maria Waleska, esse o nome da polaquinha, era loira, formosa e uma cabeça mais alta do que o imperador. Ostentava o título de condessa. Confessou que seus compatriotas, inclusive o conde seu marido, pediram que ela usasse seus encantos para intervir pela independência da Polônia.
— O país todo está me atirando em seus braços — gemeu, e recuando um passo, como se estivesse entre temente e indefesa, acrescentou: — E eu sei que o senhor sempre toma o que pretende tomar.
Napoleão, claro, adorou aquilo. Pulou em cima da condessa como se ela fosse um naco de Camembert e a possuiu durante toda a noite, fazendo o que bem quis, como quis e onde quis. Foi um tanto violento, de acordo com o relato posterior da própria Maria Waleska. Mas ela gostou. Apaixonou-se pelo imperador, e ele por ela. Tiveram até um filho. Dizem que foi a mulher que Napoleão mais amou, e há indícios escritos de tanto sentimento. Depois de sua passagem pela Polônia, na aridez do campo de batalha, as cartas que ele lhe endereçava pulsavam de paixão carnal.
Maria Waleska venceu, portanto. Como conseguiu? Empregou os ardis das mulheres novas, bonitas e carinhosas, que sempre fazem os homens gemer sem sentir dor. Waleska se ofereceu a Napoleão como uma presa. Entregou-se a ele alegando que não podia fazer mais nada, a não ser se entregar. Era inevitável, ciciava Waleska: se Napoleão quisesse tomá-la, tomá-la-ia. Como a tomou. Só que, na verdade, era ela que o tomava.
Em resumo, Maria Waleska jogou no contra-ataque. Esperou que Napoleão atacasse, ele atacou e ela o conquistou. Esse o ensinamento da bela polonesa: quando se lida com os grandes, há que se jogar no contragolpe. É assim que se vence um campeonato como o Brasileiro, em que há uma dúzia de grandes: negaceando, dissimulando e simulando. Jogando no contra-ataque. É como se forma um campeão. Ou, no caso de Maria Waleska, uma campeã.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

SONHADORA






"E então, ela costurou as suas asas quebradas, respirou fundo, fechou os olhos e se jogou... 
Ela estava numa altura absurda, mas não recuou em nenhum momento — ela já tinha adiado isso fazia tempo — e nem teve medo do que encontraria pela frente em seu caminho, um caminho sem promessas, dali em diante, mas com suavidade espalhada por todos os cantos. 
Ela só queria viver uma realidade tão bela quanto os seus mais doces sonhos. Não, ela não era nenhuma boba alienada, muito menos hipócrita, tinha os pés no chão, a cabeça dela é que voava muito... Era uma sonhadora!"
Pérola Anjos

VIDA









A vida acontece em qualquer grão de possibilidade que exista.


Luíz Kiari

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

DESEQUILÍBRIO




Desequilíbrio!!!  Para a maioria um estado psicológico doentio. Para mim, o início de uma ascensão, caminhos novos a seguir. O desequilíbrio gera instabilidade nos pensamentos, é hora de rever o que já foi construído e começar a apertar os laços que se afrouxaram.  A corda não pode ficar instável; tem que estar tensa e completamente esticada. Firme!  Mas onde amarrar novamente essa corda que será a segurança do caminho a percorrer? Quando escolhemos uma direção, outras ficarão para trás.  Pessoas ficarão e seguirão por outros caminhos. Até que ponto podemos ou não seguir sem olhar para trás???  O que escolhemos para nós, também escolhemos para os outros.  As escolhas geram dúvidas...  Eu sou o senhor do meu destino, mas trago comigo e levarei um pedaço do destino de cada um que andar comigo.  Como ser justo? Ao momento da minha decisão, não retornarei.  Não desistirei.  O meu foco será meu propósito e o caminho será percorrido a qualquer preço. Preço alto a se pagar, inquestionavelmente.  Mas nenhum preço se assemelhará ao objetivo já visualizado em minha mente.




WR.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

HOMEM CÁLIDO







No jardim dos alecrins
Solitária, espero-te
Tu, meu homem cálido, que já tardas tanto
Deixando-me cá calada
Sentada num banco
Divagando ardente em lembranças saudosas
Daquelas noites de outrora
Que não quero
Deixá-las esvaecerem
Na memória
Tornarem-se apenas
Sonho difuso
Opaco
Envolto em brumas
Que o tempo traz

Ó meu homem cálido!
Vim sem nada por baixo
Os botões do sobretudo
Desabotoei todos
Cá neste ermo jardim
Sereno, esquecido
Meu corpo se mostra 
Nu
Ardente a te esperar
Como tantas vezes o vira
E o teve
Naquelas noites de outrora
Que as tanto quero
De volta

Minha boca te espera
Para beijar-me
Matar minha sede
Que a água não mata
Meus seios te esperam
Para acolher-te
Brincar com teus lábios
E língua
Minhas coxas, ancas, dorso
Esperam-te
Como teu parque
Para que neles passeies
Como bem queiras
Meu sexo aflora
E espera-te
Como tua casa
Para aninhar-te
Desejoso do teu corpo
Sobre o meu
Dentro do meu
A comprimir-se
Saciando minha extrema saudade

Ó meu homem cálido!
O quão me tornou voluptuosa
Queimando em chamas
Tua ausência que se demora

Chego a ser devassa
Despudorada
Meretriz
Em meus devaneios solitários
Lembrando-te, banhada em suores
Ofegante
Quando como um vulcão de virilidade,
Insaciável, me possuías
Como tua Ambrósia
Segurando-me pela cintura
Desflorando-me por trás
Sem tanto respeitar-me
Puxando-me pelos cabelos
Sussurrando dizeres safados
Arteiros e meigos
Enquanto lambias minhas costas
Mordiscando-a, cobrindo-a de beijos
Apertando-me e arranhando-me

Quando eu era
Tua comida
Que faminto devoravas
Lambendo depois os beiços
Ao repousar aninhado em meus seios
Contente e satisfeito
Até não mais do que meia hora
Quando tudo se repetia

Ah! Tu meu homem cálido!
Em nossos momentos
Nunca se melindrou comigo
Esperando por qualquer autorização
Ou dela precisou
Para fazer tudo o que bem querias
Por mais dissoluto que fosse
Tão somente ia e fazia
De todo seguro, com autoridade inquestionável de mestre
Por saber que vindo de ti
Tudo era desavergonhadamente
Vertiginosamente
Escandalosamente
De-li-ci-o-so
E sempre me satisfazia
Eu que era assim inteiramente
Tua fêmea submissa
Serva das tuas vontades
Tu mandando, eu obedecendo
E agradecendo aos céus
Ter a ti como meu senhor

Como nunca careci pedir a ti
Que fizesse isso ou aquilo
Em nossas horas sagradas
Tu de antemão o fazias
O que eu queria já sabias
Ao meu gosto com exatidão
Enlouquecendo-me
Em cada pêlo, poro
Víscera, pensamento
E gota de suor escorrida

Desavergonhadamente
Escandalosamente
Vertiginosamente
Tanto e tão perfeitamente
Completamos-nos na cama
Deliciosamente bem nos dando
E ainda de Amor tão grande e verdadeiro nos amando
Que, ó, meu homem cálido!
Ohhhhhhh...
Desnuda te espero
Ofegante
Aqui neste jardim ermo
Sentada num banco
Ardendo em chamas
Tomada por saudade extrema
Para que logo venhas
E me tenhas na grama

Acaso nos verem assim
Como dois animais selvagemente
Amando-nos no cio entre os matos
Abençoado será o escândalo desavergonhado
Porque sei será
Desavergonhadamente, escandalosamente
De-li-ci-o-so, bem aventurado
Valendo a pena
Qualquer seja

Ó meu homem cálido!
Ohhhhhhh...
Lânguida
Cerrando os olhos turvos em gozo
Para ver-te
Ardo como fogo em brasa
Suspirando, estremecendo
Arrepiando-me, gemendo secretamente

Despudoradamente
Quero-te!
Preciso-te!
Espero-te!

Venha logo
Não tarde...

Apaixonadamente


Rob Azevedo

PAZ






"Benditos os que conseguem se deixar em

 paz. 

Os que não se cobram por não terem 

cumprido suas resoluções, que não se culpam 

por terem falhado, não se torturam por terem 

sido contraditórios, não se punem por não 

terem sido perfeitos. 

Apenas fazem o melhor que podem

Se é para ser mestre em alguma coisa,

 então que sejamos mestres 

em nos libertar da patrulha do pensamento
De querer se adequar à sociedade e ao mesmo


 tempo ser livre."



(Martha Medeiros)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

TEMPESTADE





O vento da vida é inconstante,
numa hora é brisa, em outra vendaval ...
Estou exatamente no olho do furacão ...
Mas quem tem o vento no sangue
não tem medo de tempestade.

- Karla Dias -

EU VOU ALÉM



Eu sou assim,
pelo menos assim quero me imaginar:
a que explode o ponto
e arqueia a linha,
e traça o contorno
que ela mesma há de romper.

- Lya Luft -

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

DOCEMENTE VIVA





Erguia-se
para uma nova manhã,
docemente viva.
E sua felicidade
era pura como o reflexo
do sol na água.
 
- Clarice Lispector -

TRANÇA DE RISO





Ela mede o fogo
pela alma

Faz uma trança de riso
em vez de lágrimas

Tece o amor que tem
até os outros

Troca o espírito e a paz
pela coragem

Ela teima na esperança
e volta ainda

Retoma o fio do prumo
com que traça

A linha da vida
que assume

Dispondo do avesso
até à face

Ela põe e repõe
o seu destino

Vai mais longe
naquilo que disfarça

Ela ousa o coração
e reafirma

Bordando o arco-íris
do que é frágil

- Maria Teresa Horta -