quinta-feira, 18 de junho de 2015

Óculos Novos





Nunca pensei em sem tão feliz com tão pouco...  Quer dizer, pensei sim, mas nunca pensei que poderia me sentir tão feliz com óculos novos!!!

A tempos ando chateada com minhas leituras, ao ponto de parar de ler algumas coisas por se tornar um tanto difícil. Mas a visão nos prega peças. E as vezes pensamos que pode ser cansaço, leitura chata, temperamento irritado, dia ruim...  Que coisa!!! Até os olhos mostrarem à consciência que o problema é deles, leva um tempinho.

Resolvi ir ao oftalmologista, que por sinal tenho que elogiar por ser uma pessoa de ótimo trato, que nos deixa com a sensação de que usar óculos é coisa bastante natural. Além de ótimo médico, gosto pela forma de tratamento com um fato que não é tão fácil aceitar.  Claro que usar óculos não é legal. Incluir um objeto estranho no seu rosto durante todo o tempo e ficar dependente dele é coisa que ninguém quer. E lutamos até os últimos momentos para viver sem eles. Mas hoje, uma ano e meio após minha primeira consulta e necessidade de usá-los sou feliz em tê-los em meus rosto. Me sinto bem, bonita e o melhor consigo fazer o que mais adoro: LER!!!!  E isso é fantástico! 

E hoje, com lentes novinhas em folha, estou sentindo como é maravilhosa essa sensação de ler perfeitamente e ver toda a graça de imagens e cores como elas realmente são. Me sinto agradecida!

Usar óculos é tudo de bom!!!!!

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Parabéns de face




Há alguns anos desativei a opção aniversário do meu face. O motivo?  Prefiro receber os parabéns de quem realmente se lembraria de mim se tal ferramenta não existisse. 
Ando observando as parabenizações e fico cada vez mais abismada em como as pessoas conseguem ser inexpressivas.


- Parabens

ou

- Parabz

ou 

- Felicidades

ou

- Tudo de bom pra vc

ou 

Feliz aniversário

Gente!!!!!!!!!!!!!!!  Cadê a expressividade? Cadê a emoção, o desejo?

Isso é preguiça de escrever? Ou se escreve por pura obrigação pelo "lembrete do facebook"?

Que é isso?????

Melhor não escrever nada, sinceramente!  

Justamente por isso, resolvi me polpar dessas palavras sem afeto. 

Quando leio algum depoimento de parabéns de verdade tenho vontade de dar os parabéns para a criatura que escreveu, de tão rara que é a espécie. 

E por fim, no final do dia, depois de vários "parabéns" sem sequer um ponto de exclamação, vem o tão nem por isso exclamativo agradecimento do aniversariante também sem exclamação.

Como se fosse um CTRL C CTRL V de todos que já li.


- Obrigada a todos que tiraram um tempinho do seu dia para me desejar os parabéns. Agradeço a todos pela atenção e carinho.  



Claro!!!!   Nada mais justo né? Pois responder comentário por comentário só se for de extrema autenticidade, o que hoje em dia tá mais escasso que agrião na feira de Pimenta Bueno!!!! 

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O Tempo




Não deixo o tempo perdoar em meu lugar. Não darei a ele os créditos de minhas dores.

Assumo minhas falhas e eu mesmo peço desculpa. Minha soberba é menor do que a minha inteligência, e posso garantir que é bem menor do que o meu coração. Ainda que seja um coração tolo, crédulo, facilmente influenciável.

Não tenho nenhum problema em perder uma briga, mas tenho todos os medos na hora de perder um amor.

Não permito o tempo resolver o que não resolvi, ajeitar o que não ajeitei, concluir o que abandonei, sugerir o que silenciei, falar por mim.

Não assinarei uma procuração no cartório para que ele defina minha situação.

A franqueza tem que ser paga à vista. O tempo apenas acumula juros e distorções do nosso valor.
Não são os dias, os meses, os anos afastado daquele que amamos que nos trarão clareza. Até porque a saudade torna todos os dias iguais, não faz nenhum sentido aguardar o que já se sabe.

Há o hábito de sumir e desaparecer quando os dilemas aparecem na vida amorosa. Eu me comprometo até o fim. Se não tem saída, aproveito para ficar junto.

Sou adepto de permanecer na tempestade a dois - nenhum dilúvio é para sempre. Sou possessivo com as minhas lembranças, arrumo a bagunça que criei, explico minhas crises, não transfiro ao tempo o que é de minha responsabilidade.

Não considero justo o tempo dizer que eu estava certo ou errado. Isso é confortável, e não existe tranqüilidade que substitua a sinceridade. Melhor errar assinando a página do que acertar anonimamente.

O tempo organiza, mas não define.

O tempo esfria, mas não cura.

O tempo estanca a hemorragia, mas não cicatriza.

O tempo elimina a carência, mas apaga o desejo.

O tempo acalma, mas não garante o entendimento.

O tempo adia as dúvidas, mas não consolida as certezas.

O tempo finge que avançamos, mas não saímos do lugar.

O tempo serve para diminuirmos a importância das ofensas, mas não resgata os elogios que não serão feitos.

O tempo é o senhor da razão, só que sempre escolho a fé, senhora da ação.

A fé cria seu próprio tempo. O tempo de amar é agora.


Fabrício Carpinejar

terça-feira, 2 de junho de 2015

A honra dos sem honra





O velho mundo vai mal.
E o governo danado

Cobrando imposto de honra
Sem haver ninguém honrado.
E como se paga imposto
Do que não tem no mercado?

Procurar honra hoje em dia
É escolher sal na areia
Granito de pólvora em brasa
Inocência na cadeia
Agua doce na maré
Escuro na lua cheia.

Agora se querem ver
O cofre público estufado
E ver no Rio de Janeiro
O dinheiro armazenado?
Mande que o governo cobre
Imposto de desonrado.

Porém imposto de honra?
É falar sem ver alguém
Dar remédio a quem morreu
Tirar de onde não tem
Eu sou capaz de jurar
Que esse não rende um vintém.

Com os incêndios da alfândega
Como sempre tem se dado
Dinheiro que sai do cofre
Sem alguém ter o tirado
Mas o empregado é rico
Faz isso e diz: — Sou honrado.

Dizia Venceslau Brás
Com cara bastante feia
Diabo leve a pessoa
Que compra na venda alheia
O resultado daí
É o freguês na cadeia.

Ora o Brasil deve à França
Mas a dívida não foi minha
Agora chega Paris
Tira o facão da bainha
E diz: — Quero meu dinheiro
Inda que seja em galinha.

Seu fulano dos anzóis
Entrou e meteu o pau
Pensou que tripa era carne
E gaita era berimbau
Vão cobrar desse, ele diz,
Quem paga é seu Venceslau.

Disse Hermes da Fonseca
Eu não tinha nem um x.
Mas achei quem emprestasse
Tomei tudo quanto quis
Embora tivesse feito
A derrota do país.

(...)

(Em O cordel; testemunha da história do Brasil. Rio de Janeiro, Fundação Casa de Rui Barbosa, 1987. Literatura popular em verso, antologia nova série, 2)