sábado, 30 de janeiro de 2016

Carta de Desistência




Esta é uma carta de desistência. 
Eu desisto.
Eu desisto de tudo que não soma em minha existência.

Isso inclui presente, passado e futuro.

Desisto da criança que eu quis ser e não fui.
Das brincadeiras e sonhos de tios, avós e primos.
Desisto da vontade de ter dançado quadrilha.
Desisto de entender onde mora a amizade nos anos da convivência.
Desisto de amores que não desistem de mim, mas que não coexistem comigo.
Isso parece ser desesperança, eu sei, mas não é.
Eu desisto de tudo isso, pra que eu não desista de mim.
Não devemos tentar fazer dar certo o que nunca foi feito pra dar.
É como viver toda uma vida andando em círculos sem sair do mesmo lugar.
Essa bagagem que carrego, deixo no caminho, pois nunca deixarei de caminhar, e o horizonte me chama sorrindo pra trilhar por este mundo e bater minhas asas por aí, sem peso, livre e aberta a novas escolhas.

WR.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Amor Fati





"Para o Ano-Novo – Eu ainda vivo, eu ainda penso: ainda tenho de viver, pois ainda tenho de pensar. Sum, ergo cogito: cogito, ergo sum [Eu sou, portanto penso: eu penso, portanto sou]. Hoje, cada um se permite expressar o seu mais caro desejo e pensamento: também eu, então, quero dizer o que desejo para mim mesmo e que pensamento, este ano, me veio primeiramente ao coração – que pensamento deverá ser para mim razão, garantia e doçura de toda a vida que me resta! Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas: – assim me tornarei um daqueles que fazem belas as coisas. Amor fati [amor ao destino]: seja este, doravante, o meu amor! Não quero fazer guerra ao que é feio. Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores. Que a minha única negação seja desviar o olhar! E, tudo somado e em suma: quero ser, algum dia, apenas alguém que diz Sim!”

(Nietzsche In Gaia Ciência, aforismo 276)