domingo, 23 de agosto de 2015

Paisagem






A Arte de Ser Paisagem


Existe uma arte, que só adquirimos com o tempo.
Ser paisagem requer treinamento. Requer esforço muscular, respiratório e mental.

Porque um movimento de sobrancelha pode mudar a descrição da paisagem. E pode externar e transferir toda a intensidade do pensar.

Ser paisagem é evitar implicações sociais. Pode-se ser uma samambaia, um cactus, ou quem sabe uma planta qualquer ornamental falsa, o importante é participar sem interferir, estar sem se diferenciar. 

Nunca, jamais, seja rouxinol, que com seu lamento sonoro hipnotiza a fêmea e a trás pra junto de si.

Lamento, opinião, pensamento, ideia, todas essas coisas levam ao rechaço social. 

Bom mesmo é ser paisagem, entrar e sair, e por todos ser amado, mesmo que seja pela insignificância.

Waleska Raquel


domingo, 16 de agosto de 2015

Perfeição










A Teofania da Perfeição

Ouve, 
Oh querido amado! 
Eu sou a realidade do mundo, 
o centro da circunferência, 
Eu sou as partes e o todo. 
Eu sou o propósito estabelecido 
entre o Céu e a Terra, 
Eu criei percepção em ti 
somente com o intuito de que seja
 o objeto de Minha Percepção. 
Se então tu Me percebes, 
percebes a ti mesmo. Mas tu não podes Me perceber através de ti. É através de Meus Olhos que tu Me vês e vês a ti mesmo, Através de teus olhos tu não podes Me ver. Querido amado! 
Eu tenho te chamado tão frequentemente 
e tu não Me tens ouvido. 
Eu tenho Me mostrado a ti tão frequentemente e tu não Me tens Visto. 
Eu tenho exalado minha fragrância tão frequentemente e tu não Me tens sentido, Alimento saboroso, 
e tu não Me tens provado. 
Por que não Me podes alcançar 
através do objeto que tocas 
Ou Me respirar através de doces perfumes? Por que não Me vês? 
Por que não Me escutas? 
Por que? Por que? Por que? 
Para ti Meus encantos superam todos os outros encantos, 
E o prazer que Eu te propicio supera todos os outros prazeres. 
Para ti eu sou preferível a todas as outras boas coisas, 
Eu sou Beleza, 
Eu sou Graça.
Ama-Me, Ama a Mim somente. 
Ama a ti mesmo em Mim, 
em Mim somente. 
Une-te a Mim, 
Ninguém é mais íntimo que Eu. 
Outros te amam por seus próprios interesses, Eu te amo por ti mesmo. 
E tu, tu foges de Mim. 
Querido amado! 
Não Me podes tratar bem, 
Pois se te aproximas de Mim, 
É porque Eu me aproximei de ti. Eu sou mais próximo de ti que tu mesmo, 
Que a tua alma, que a tua respiração. 
Quem entre as criaturas 
Te trataria como Eu te trato? 
Eu tenho ciúme de ti, por ti, 
 Não quero que pertenças a mais ninguém, Nem mesmo a ti próprio. 
Sê Meu, 
sê para Mim como tu és em Mim, 
Apesar de que tu nem mesmo percebes isso. Querido amado! 
Vamos em direção à União. 
E se nós encontrarmos a estrada 
Que conduz à separação, 
Nós destruiremos a separação. 
Vamos de mãos dadas. 
Entremos na presença da Verdade. 
Que Ela seja nosso juiz E imprima Seu selo sobre nossa união 
Para sempre. 


(Ibn' Arabî)

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Offline




Escrever, escrever, escrever...   
Escrevo, ao mesmo tempo que penso, que hoje em dia só se é feliz, só se está vivo se publicarmos algo...

Este blog mesmo, existe de publicações. Apesar de não sobreviver da publicidade, estar quase no anonimato, sendo localizado via google e por alguns amigos curiosos ou que realmente gostam do conteúdo.

Mas, quero mesmo referir-me àquelas publicações da vida cotidiana íntima. Sinto que as pessoas que não publicam suas vidas nas redes sociais são fadadas a ter uma lápide em vida com os dizeres "Morreu offline".

Viver e não publicar,  é como comer e não sentir o gosto...

Se ninguém viu, se ninguém comentou, se não causou inveja, não foi digno de ser vivenciado...

Mas...  As vezes... Quando alguém foge a regra e começa a seguir por caminhos diferentes, e vai contra a multidão, sem os alardes sociais da mesma, consegue chamar mais atenção do que se estivesse tentando exaustivamente abrilhantar sua fanpage com eventos e purpurinas.

Os publicadores festivos começam a preocupar-se incansavelmente com aquela "criatura" insossa e apagada no meio de tanto brilho, que não segue a cultura padrão. 

- Como pode alguém não gostar de estar no meio de nós, de fazer o que fazemos e de comer o que comemos?

Seria essa criatura um ET? Um dinossauro da Era  neandertal ressucitado? Seria um duente comendo banana com  aveia?

Sim e Não.

Para uma mente que cultua a liberdade de expressão, você pode ser o que quiser. 

Então, que fique bem claro aqui, que o lindo do ser humano deveria ser a diversidade. A expressão da alma. Quem gosta da exposição, que seja feliz com isso. E quem não gosta que seja feliz também. O importante, é cada um ser respeitado dentro das suas escolhas de vida. 

Waleska Raquel

domingo, 9 de agosto de 2015

Gatos



Presuto - In Memorian - 09/08/2015



"Bichos polêmicos sem o querer, porque sábios, mas inquietantes, talvez por isso...nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos. O só pedir a quem amam. O só amar a quem os merece.
O homem quer o bicho espojado, submisso, cheio de súplica, temor, reverência, obediência. O gato não satisfaz as necessidades doentias do amor. Só as saudáveis.
Lembrei, então, de dizer, dos gatos, o que a observação de alguns anos me deu.
Quem sabe, talvez, ocorra o milagre de iluminar um coração a eles fechado?
Quem sabe, entendendo-os melhor, estabelece-se um grau de compreensão, uma possibilidade de luz e vida onde há ódio e temor? Quem sabe São Francisco de Assis não está por trás do Mago Merlin, soprando-me o artigo?
Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula.
Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele dependente, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso.
"Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser.
O gato devolve ao homem a exata medida da relação que dele parte. Sábio e espelho. O gato é zen. O gato é Tao. Ele conhece o segredo da não-ação que não é inação. Nada pede a quem não o quer. 
Exigente com quem ama, mas só depois de muito certificar-se. Não pede amor, mas se lhe dá, então ele exige.
Sim, o gato não pede amor. Nem depende dele. Mas, quando o sente é capaz de amar muito. Discretamente, porém sem derramar-se. O gato é um italiano educado na Inglaterra. Sente como um italiano mas se comporta como um lorde inglês.
Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não transa o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se relaciona com a aparência do homem. Ele vê além, por dentro e pelo avesso. Relaciona-se com a essência.
Se o gesto de carinho é medroso ou substitui inaceitáveis (mas existentes) impulsos secretos de agressão, o gato sabe. E se defende do afago. A relação dele é com o que está oculto, guardado e nem nós queremos, sabemos ou podemos ver. Por isso, quando surge nele um ato de entrega, de subida no colo ou manifestação de afeto, é algo muito verdadeiro, que não pode ser desdenhado. É um gesto de confiança que honra quem o recebe, pois significa um julgamento.
O homem não sabe ver o gato, mas o gato sabe ver o homem. Se há desarmonia real ou latente, o gato sente. Se há solidão, ele sabe e atenua como pode (ele que enfrenta a própria solidão de maneira muito mais valente que nós). Se há pessoas agressivas em torno ou carregadas de maus fluidos, ele se afasta.
Nada diz, não reclama. Afasta-se. Quem não o sabe "ler" pensa que "ele não está ali. Presente ou ausente, ele ensina e manifesta algo. Perto ou longe, olhando ou fingindo não ver, ele está comunicando códigos que nem sempre (ou quase nunca) sabemos traduzir.
O gato vê mais e vê dentro e além de nós. Relaciona-se com fluidos, auras, fantasmas amigos e opressores. O gato é médium, bruxo, alquimista e parapsicólogo. É uma chance de meditação permanente a nosso lado, a ensinar paciência, atenção, silêncio e mistério. O gato é um monge portátil à disposição de quem o saiba perceber.
Monge, sim, refinado, silencioso, meditativo e sábio monge, a nos devolver as perguntas medrosas esperando que encontremos o caminho na sua busca, em vez de o querer preparado, já conhecido e trilhado. O gato sempre responde com uma nova questão, remetendo-nos à pesquisa permanente do real, à busca incessante, à certeza de que cada segundo contém a possibilidade de criatividade e de novas inter-relações, infinitas, entre as coisas.
O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção. Desatentos não agradam os gatos. Bulhosos os irritam. Tudo o que precise de promoção ou explicação, quer afirmação. Vive do verdadeiro e não se ilude com aparências. Ninguém em toda natureza aprendeu a bastar-se (até na higiene) a si mesmo como o gato!
Lição de sono e de musculação, o gato nos ensina todas as posições de respiração ioga. Ensina a dormir com entrega total e diluição recuperante no Cosmos. Ensina a espreguiçar-se com a massagem mais completa em todos em todos os músculos, preparando-os para a ação imediata. Se os preparadores físicos aprendessem o aquecimento do gato, os jogadores reservas não levariam tanto tempo ( quase 15 minutos) se aquecendo para entrar em campo.
O gato sai do sono para o máximo de ação, tensão e elasticidade num segundo. Conhece o desempenho preciso e milimétrico de cada parte do seu corpo, a qual ama e preserva como a um templo.
Lição de saúde sexual e sensualidade. Lição de envolvimento amoroso com dedicação integral de vários dias. Lição de organização familiar e de definição de espaço próprio e território pessoal. Lição de anatomia, equilíbrio, desempenho muscular. Lição de salto. Lição de silêncio.Lição de descanso.  Lição de introversão. Lição de contato com o mistério, com o escuro, com a sombra. Lição de religiosidade sem ícones.
Lição de alimentação e requinte. Lição de bom gosto e senso de oportunidade.  Lição de vida, enfim, a mais completa, diária, silenciosa, educada, sem cobranças, sem veemências, sem exigências.
O gato é uma chance de interiorização e sabedoria posta pelo mistério à disposição do homem."

Arthur de Távula

A Vida Como Ela É


Para Minha Pequena:






sábado, 8 de agosto de 2015

O Gorila




O Gorila


Você já conversou com um gorila?
Já perguntou o que ele sente, o que ele quer?
Não.
Ninguém fala com ele.
Pois ele está preso.
E não tem como sair do Zoológico.
Pode até sair da jaula...


O Gorila é um Ser Humano enjaulado.
Preso as imposições sociais escolhidas por ele.
A jaula não tem chave.
Também não está trancada.
Mas é a jaula  o mundo do Gorila.
Na jaula tem comida em horários certos, tem abrigo, tem certezas...
Fora da jaula há uma mundo desconhecido. 
Há um Zoológico com muitos bichos e uma vastidão de incertezas.
O enorme portal está lá.
Sim, ele pode sair. 
Mas o Gorila hipnotizado pela ração do dia, prefere ficar...
O que há lá fora? 
Quem sabe amanhã.
O dia amanhece chovendo, e como o Gorila tem uma toca, fica em seu abrigo da jaula, 
mais um dia.
Semana que vem, quem sabe.
Quando chega a noite, 
e a lua banha  o pequeno espaço,
o Gorila ativa a memória infantil perdida em um campo banhado pelo mesmo luar.
Mas, continua ali...
Olhando aquela lua.
E dentro de sí, uma guerra entre o ser e o querer.
Guerra que corrói a alma.
E assim os dias vão passando...
Até que aos 80 anos, o Gorila possa descansar em paz.


Waleska Raquel

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Cristo






A Cristo Crucificado

tradução de Manuel Bandeira


Não me move, meu Deus, para querer-te
O céu que me hás um dia prometido;
E nem me move o inferno tão temido
Para deixar por isso de ofender-te.

Tu me moves, Senhor, move-me o ver-te
Cravado nessa cruz e escarnecido
Move-me no teu corpo tão ferido
Ver o suor de agonia que ele verte.

Moves-me ao teu amor de tal maneira,
Que a não haver o céu ainda te amara,
E a não haver o inferno te temera.

Nada me tens que dar porque te queira;
Que se o que ouso esperar não esperara,
O mesmo que te quero te quisera.



Santa Tereza de Ávila 

sábado, 1 de agosto de 2015

Feitiço



Uma página perdida, em um livro perdido, em uma estante perdida, numa cidade em Goias...





Espelho Meu

Fernando di Primio