sábado, 29 de junho de 2013

RESPOSTAS





Primeiro você me aparece e me mostra as coisas das quais, até ontem, eu não tinha medo. Eu acredito nelas e, de repente, elas se tornam muito mais do que uma simples crença. Me encoraja ao amor, retrocedo nos dedos. Vem, vende sonhos para nós, mas eu compro só para mim. Vejo um futuro, te chamo por cima do muro da saudade, estico os pés na esperança, me apoio na confiança, espero uma resposta do amor. Será que é só medo a nossa distância? Eu fico aqui com a pergunta e também com a resposta e eu as ofereço para você, como quem oferece um pedaço de vida. Você as toca, mas não as abraça. Você as vê, mas não as retribui. Você não existe. Primeiro eu desejei o amor, depois uma possibilidade, agora não desejo quase nada. Eu continuo, então, preso a esses sonhos comprados, evaporando meu amor, desistindo de uma vida para nós. Acho que é por esse poro que a esperança se esvai.



quarta-feira, 26 de junho de 2013

Os Príncipes e a Rosa







Aquele planeta era tão pequeno...  Mas lá existiam um príncipe e sua rosa.  Ele cuidava dela diariamente e ela era sempre bela e formosa.  Até que um dia o príncipe resolveu se aventurar pela grande galáxia em busca de outros planetas, dizendo a sua rosa que voltaria, e ela ficou só...  Nos primeiros dias tentou ser forte. Mas sem os cuidados do príncipe foi definhando e perdendo seu brilho. Mal ela sabia que em toda aquela enorme galáxia, existiam outros planetas com outros príncipes que também viajavam...  Em um belo dia de inverno um príncipe apareceu naquele planetinha. Vendo a rosa ali tão solitária e quase a beira da morte, deixou cair uma lágrima que escorreu pelo seu rosto e caiu sobre as pétalas pálidas e quase sem vida da rosa que imediatamente  absorveram aquele néctar de vida.  A rosa desabrochou em um vermelho púrpuro e intenso que encantou o príncipe que percebeu que dentro de muitas que já havia visto, aquela, para ele, era única e bela.


Readaptação de "O Pequeno Príncipe"

Waleska Raquel

quinta-feira, 20 de junho de 2013

MEU DESARRUMADO




Coisas Que Eu Sei

Danni Carlos

Eu quero ficar perto
De tudo que acho certo
Até o dia em que eu
Mudar de opinião
A minha experiência
Meu pacto com a ciência
Meu conhecimento
É minha distração...
Coisas que eu sei
Eu adivinho
Sem ninguém ter me contado
Coisas que eu sei
O meu rádio relógio
Mostra o tempo errado
Aperte o Play...
Eu gosto do meu quarto
Do meu desarrumado
Ninguém sabe mexer
Na minha confusão
É o meu ponto de vista
Não aceito turistas
Meu mundo tá fechado
Pra visitação...
Coisas que eu sei
O medo mora perto
Das idéias loucas
Coisas que eu sei
Se eu for eu vou assim
Não vou trocar de roupa
É minha lei...
Eu corto os meus dobrados
Acerto os meus pecados
Ninguém pergunta mais
Depois que eu já paguei
Eu vejo o filme em pausas
Eu imagino casas
Depois eu já nem lembro
Do que eu desenhei...
Coisas que eu sei
Não guardo mais agendas
No meu celular
Coisas que eu sei
Eu compro aparelhos
Que eu não sei usar
Eu já comprei...
As vezes dá preguiça
Na areia movediça
Quanto mais eu mexo
Mais afundo em mim
Eu moro num cenário
Do lado imaginário
Eu entro e saio sempre
Quando tô a fim...
Coisas que eu sei
As noites ficam claras
No raiar do dia
Coisas que eu sei
São coisas que antes
Eu somente não sabia...
Coisas que eu sei
As noites ficam claras
No raiar do dia
Coisas que eu sei
São coisas que antes
Eu somente não sabia...
Agora eu sei...
Agora eu sei...
Agora eu sei...
Ah! Ah! Agora eu sei...
Ah! Ah! Agora eu sei...
Ah! Ah! Agora eu sei...
Ah! Ah! Eu sei!

domingo, 16 de junho de 2013

VIVA




Toca tua vida pra frente, te solta do que te

impede de ver o sol.  Não fique dependendo 


da presença de quem soltou a tua mão. 




Luara Quaresma

quinta-feira, 13 de junho de 2013

A BOA MÃE




A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo. 
Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase e ela sempre me soou estranha. Até agora. Agora que minha filha adolescente, aos quase 18 anos, começa a dar vôos-solo. Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta para controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara. Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária. 

Antes que alguma mãe apressada venha me acusar de desamor, preciso explicar o que significa isso. Ser 'desnecessária' é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes.
Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também. A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida.Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado,o conforto nas horas difíceis.

Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão. Ao aprendermos a ser 'desnecessários', nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.



Márcia Neder Bacha é psicanalista e pesquisadora da UFMS e da USP/NUPPE. Doutora em Psicologia Clínica e autora de Psicanálise e Educação – Laços Refeitos e A arte de formar: o feminino, infantil e o epistemológico.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

AMOR: MOEDA DE TROCA





Dizem que amor e carinho são uma fonte inesgotável. Que quanto mais se dá, mais se tem, mas isso não é verdade.  O amor e o carinho são moedas de troca, tem que ser recíprocos. Tem que haver "feedback", pois senão a fonte aos poucos se esgota, vai ficando árida, ressecada e minguando até esgotar-se por completo. Amor com amor se paga, essa é a verdade. Hipocrisia a parte, é isso que todos querem receber, quem dá amor e carinho, quer  o mesmo em troca, não está em busca de outra coisa. Amor é uma necessidade, e mesmo o ser mais altruísta, no fundo de sua alma busca ser recompensado com amor também. Sem isso o ser humano adoece e sofre. Torna-se amargo e triste. Amor é sentimento unilateral, que preenche quando há a troca. Tem que existir parceria para que esse sentimento seja como Vinícius dizia: Eterno enquanto dure...


Waleska Raquel

segunda-feira, 3 de junho de 2013

LÁGRIMAS DE CHUMBO




Fragmentos - O soldadinho de Chumbo e a Bailarina.


"Todos os soldados se pareciam exatamente uns com os outros, exceto um, que não possuía uma perna, porque o tinham posto na fôrma em último lugar, e já não havia chumbo suficiente." Apesar deste defeito, os outros não se firmavam melhor em duas pernas do que ele na sua única.
Sobre a mesa em que os nossos soldados estavam formados havia outros brinquedos; mas o mais bonito de todos era um lindíssimo castelo de cartolina. Tudo era encantador, mas não tanto como uma menina à porta, e  que era também de cartolina, com um lindo vestido de cassa, apertado por um cinto de fivela azul. A menina apresentava os braços arqueados, porque era dançarina, e uma  perninha  levantada a tal altura que o soldado de chumbo não a podia ver, e imaginou que, como ele, não teria senão uma perna.
"Ali está a mulher que me convém", pensou, "mas é uma grande fidalga, mora num palácio, eu em uma caixa em companhia de vinte e quatro camaradas; e aqui  não haveria lugar para ela. No entanto, preciso conhecê-la."
Os únicos que estavam quietos eram o soldado de chumbo e a dançarinazinha - ela no bico do pé, ele numa perna só, a espreitá-la.
Deu meia-noite, e zás! a tampa da caixa de charutos levanta-se, e saiu um feiticeirozinho vestido de preto. Enciumado, ele viu como o soldadinho olhava embevecido para a dançarina.
- "Soldadinho de chumbo", disse o feiticeiro, "trata de olhar para outro lado. "Mas o soldado fez que não ouvia.
No dia seguinte, quando os pequenos se levantaram, puseram o soldado de chumbo à janela; mas, de repente, ou por influência do feiticeiro ou por causa do vento, caiu à rua de cabeça para baixo.
A chuva começou a cair em torrentes, e transformou-se em verdadeiro dilúvio.
Depois do aguaceiro passaram dois garotos.- "Olá!", disse um deles, "um soldadinho de chumbo por aqui! Vamos fazê-lo navegar."
Construíram um barco com um pedaço de jornal velho, meteram o soldado de chumbo dentro, e obrigaram-no a descer pelo regato abaixo. O barco lançou-se sobre a queda d'água, e o pobre soldado firmava-se o mais possível, e ninguém se atreveria a dizer que o tinha visto fechar os olhos com medo.
Nesse momento supremo, pensou na gentil dançarina, e pareceu-lhe ouvir uma voz que dizia: - "Soldado, o perigo é enorme, a morte espera-te."O papel rasgou-se, e o soldado passou através dele. Nesse momento foi devorado por um grande peixe.
Após todo o ocorrido, o peixe foi pescado, exposto na feira, vendido, levado para a cozinha, e a cozinheira abriu-o com uma enorme faca. Pegou no soldado de chumbo com dois dedos, e levou-o para a sala, onde toda gente quis admirar esse homenzinho extraordinário, que tinha viajado na barriga de um peixe. Entretanto, o soldado não se sentia orgulhoso. Colocaram-no em cima da mesa, e ali - tanto é verdade que acontecem coisas extraordinárias neste mundo - achou-se na mesma sala, de cuja janela havia caído. Reconheceu os pequenos e os brinquedos que estavam em cima da mesa, o lindo palácio, e a adorável dançarina sempre de perna no ar.
O soldadinho de chumbo ficou tão comovido, que de boa vontade teria derramado lágrimas de chumbo; mas isso não seria decente. Olhou para ela, ela olhou para ele, mas não disseram uma palavra ao outro.
De repente, um dos pequenos pegou nele e, sem motivo algum, atirou-o no fogo; eram obras do feiticeiro da caixa de charutos. O soldadinho de chumbo lá estava perfilado, iluminado por um clarão sinistro, e sofrendo um calor terrível. Todas as cores lhe tinham desaparecido, sem que se pudesse dizer se era por causa de suas viagens, ou por causa de seus desgostos. Continuava a olhar para a dançarina, que também olhava para ele. Sentia-se derreter, mas, sempre corajoso, conservava a espingarda ao ombro na atitude marcial. De repente, abriu-se uma porta e um golpe de vento arremessou a dançarina ao fogo, para junto do soldado, que apareceu no meio das labaredas. O soldadinho de chumbo não era mais que uma pequena massa informe. 
No dia seguinte, quando a criada veio limpar a lareira, ficou espantada ao encontrar um pequeno coração de chumbo com uma fivelinha azul."

 Hans Christian Andersen