terça-feira, 28 de maio de 2013

EROS





"O sexo é uma necessidade fisiológica que busca gratificação por meio da liberação de tensão. EROS é um desejo psicológico que procura a procriação ou a criação por meio de uma união duradoura com o ser amado. EROS significa fazer amor; sexo é a manipulação de órgãos. EROS é o desejo de estabelecer uma união duradoura; sexo é o desejo de experimentar prazer. EROS cria asas a partir da imaginação humana e está sempre transcendendo todas as técnicas, ironizando todos os livros do tipo 'Como fazer...' ao lançar-se alegremente em uma órbita acima de nossas regras mecânicas."


 ( May, 1969b, p. 74).

segunda-feira, 27 de maio de 2013

IMPORTAR-SE





"Importar-se com cuidar de alguém significa reconhecer aquela pessoa como semelhante, identificar-se com as dores e alegrias, culpas ou aflições daquele indivíduo. Importar-se é um processo ativo, o oposto à apatia. O cuidado é uma estado em que algo realmente importa."

 (May, 196b, p. 289)

sexta-feira, 24 de maio de 2013

CATIVA-ME





- Bom dia - disse a raposa.

- Bom dia - respondeu educadamente o pequeno príncipe, olhando a sua volta, nada viu.

- Eu estou aqui - disse a voz, debaixo da macieira...

- Quem és tu? - Perguntou o principezinho. - Tu és bem bonita...

- Sou uma raposa - disse a raposa.

- Vem brincar comigo - propôs ele. - Estou tão triste...

-Eu não posso brincar contigo - disse a raposa. - Não me cativaram ainda.

- Ah! Desculpa - disse o principezinho.

Mas, após refletir, acrescentou:

- Que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?

- Procuro os homens - disse o pequeno príncipe. - Que quer dizer "cativar"?

- Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?

- Não - disse o príncipe. - Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. Significa "criar laços"...

- Criar laços?

- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...


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Trecho de O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry

COISAS HUMANAS





Minhas entranhas pulsam
Pulsam, mas adormecem
Tem medo de pulsar
Porque tem medo de viver

Meus pensamentos explodem
Explodem, mas só no desejo
Porque temem revelar-se
E revelando-se, afugentar

Meus pés correm devagar
Correm devagar, mas atônitos
Porque tem medo de chegar
Mais rápido do que a humandidade

Minhas mãos estão sempre a se mexer
Fazendo sempre coisas humanas
Coisas tão exageradamente humanas
Visivelmente incompreendida pelos homens


Meus olhos estão sempre a ver
Veem o real, o óbvio e as nuances
Mas se detém nas nuances
Que é o fascínio das entrelinhas do humano

Minha boca tem o dom da fala
E são palavras complexas, talvez avançadas
E eles parecem estranhá-las
E continuarão sem entendê-las

Minha alma tem o brilho do sol
E é tão incandescente
Que apenas quem é outro sol
Consegue reconhecer o brilho que nela há 


Clenes Mendes Calafange

quinta-feira, 16 de maio de 2013

ESPADA




Pensei que poderia te pedir a grinalda de flores que levas no pescoço, mas não me atrevi. 
Fiquei esperando pela manhã, quando tivesses ido embora, para encontrar pedaços dela no leito.
 E fiquei na madrugada feito mendiga, procurando uma ou duas pétalas caídas.
Coitada de mim, o que foi que encontrei? O que me restou do teu amor? Nem flor, nem perfume, nem jarro de água perfumada... 
Apenas a tua espada poderosa, flamejante como chama e pesada como raio na tempestade. A luz jovem da manhã entra pela janela e se derrama em teu leito. O pássaro da manhã começa a cantar, e me pergunta: "Mulher, o que é que encontraste?" Não, não foi uma flor, nem perfume e nem jarro de água perfumada. 
Encontrei apenas a tua espada poderosa.
Sento-me e fico cismanda, admirada com essa tua dádiva. Não acho lugar onde escondê-la. Tenho vergonha de usá-la, tão frágil sou, e ela me fere quando eu a aperto contra o peito. Mesmo assim, porém, eu levarei no meu coração esse honroso fardo de dor, que é a tua dádiva para mim.
Doravante nada mais temerei neste mundo, e tu conquistarás a vitória em todas as minhas lutas. Deste-me a morte por companheira, e eu vou coroá-la com a minha vida. A tua espada está comigo para cortar as minhas amarras, e nada mais temerei neste mundo.
Doravante eu abandono os adornos fúteis. Senhor do meu coração, não vou mais ficar esperando ou me desesperando pelos cantos, e nunca mais vou ser tímida ou caprichosa. Deste-me como ornamento a tua espada. Não preciso mais dos enfeites de boneca.

(Rabindranath Tagore)