Pensei
que poderia te pedir a grinalda de flores que levas no pescoço, mas não
me atrevi.
Fiquei esperando pela manhã, quando tivesses ido embora,
para encontrar pedaços dela no leito.
E fiquei na madrugada feito
mendiga, procurando uma ou duas pétalas caídas.
Coitada de mim,
o que foi que encontrei? O que me restou do teu amor? Nem flor, nem
perfume, nem jarro de água perfumada...
Apenas a tua espada
poderosa, flamejante como chama e pesada como raio na tempestade. A luz
jovem da manhã entra pela janela e se derrama em teu leito. O pássaro
da manhã começa a cantar, e me pergunta: "Mulher, o que é que
encontraste?" Não, não foi uma flor, nem perfume e nem jarro de água
perfumada.
Encontrei apenas a tua espada poderosa.
Sento-me e
fico cismanda, admirada com essa tua dádiva. Não acho lugar onde
escondê-la. Tenho vergonha de usá-la, tão frágil sou, e ela me fere
quando eu a aperto contra o peito. Mesmo assim, porém, eu levarei no meu
coração esse honroso fardo de dor, que é a tua dádiva para mim.
Doravante nada mais temerei neste mundo, e tu conquistarás a vitória em
todas as minhas lutas. Deste-me a morte por companheira, e eu vou
coroá-la com a minha vida. A tua espada está comigo para cortar as
minhas amarras, e nada mais temerei neste mundo.
Doravante eu
abandono os adornos fúteis. Senhor do meu coração, não vou mais ficar
esperando ou me desesperando pelos cantos, e nunca mais vou ser tímida
ou caprichosa. Deste-me como ornamento a tua espada. Não preciso mais
dos enfeites de boneca.
(Rabindranath Tagore)