quinta-feira, 16 de maio de 2013

ESPADA




Pensei que poderia te pedir a grinalda de flores que levas no pescoço, mas não me atrevi. 
Fiquei esperando pela manhã, quando tivesses ido embora, para encontrar pedaços dela no leito.
 E fiquei na madrugada feito mendiga, procurando uma ou duas pétalas caídas.
Coitada de mim, o que foi que encontrei? O que me restou do teu amor? Nem flor, nem perfume, nem jarro de água perfumada... 
Apenas a tua espada poderosa, flamejante como chama e pesada como raio na tempestade. A luz jovem da manhã entra pela janela e se derrama em teu leito. O pássaro da manhã começa a cantar, e me pergunta: "Mulher, o que é que encontraste?" Não, não foi uma flor, nem perfume e nem jarro de água perfumada. 
Encontrei apenas a tua espada poderosa.
Sento-me e fico cismanda, admirada com essa tua dádiva. Não acho lugar onde escondê-la. Tenho vergonha de usá-la, tão frágil sou, e ela me fere quando eu a aperto contra o peito. Mesmo assim, porém, eu levarei no meu coração esse honroso fardo de dor, que é a tua dádiva para mim.
Doravante nada mais temerei neste mundo, e tu conquistarás a vitória em todas as minhas lutas. Deste-me a morte por companheira, e eu vou coroá-la com a minha vida. A tua espada está comigo para cortar as minhas amarras, e nada mais temerei neste mundo.
Doravante eu abandono os adornos fúteis. Senhor do meu coração, não vou mais ficar esperando ou me desesperando pelos cantos, e nunca mais vou ser tímida ou caprichosa. Deste-me como ornamento a tua espada. Não preciso mais dos enfeites de boneca.

(Rabindranath Tagore)

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