quarta-feira, 27 de março de 2013

PRESENÇA






PRESENÇA
 
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, 
apenas,
 levemente,
 o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, 
no ar, 
a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminoso, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outro e múltiplo e imprevisto
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.


Mario Quintana

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