terça-feira, 27 de março de 2012

DO LADO DE DENTRO



E estar junto é mais do que andar de mãos dadas: é sentir as mãos apertarem-se em resposta aos olhares trocados. Estar junto é muito mais que uma atualização de relacionamento em rede social, vai mais além do que, aparentemente, se pode ver. É muito mais do que querer mostrar que não está só. Não é preciso que te liguem ou que te cubram de mensagens piegas impecavelmente cronometradas de cinco em cinco minutos. Não é preciso ouvir aquele meloso ‘eu te amo’ mil vezes por dia. Não é preciso gritar ao mundo que ama, é ver o outro dormir e falar baixinho ao pé do ouvido que vai estar ali, sempre. Ele não precisa saber, precisa sentir. E, isso, nenhuma palavra pode explicar. Estar junto é dividir os problemas e as alegrias, é rir juntos das tempestades já passadas. Estar junto é assistir o pior dos filmes agarrados no sofá. É fazer do outro o seu inesquecível. É fazer dos momentos, inesquecíveis!
Pieguice aos quatro ventos é o fim! Poupem-me de tanta hipocrisia e (falsa) melosidade! Poupem-me de tantos sentimentos postiços e manequins brincando de casal. Amor é vida, estar junto é vida. Sempre achei uma baita sacanagem a banalização do amor, a perda de valores, do que é realmente ter e estar com alguém; estar junto não é sair por aí dividindo camas por algumas horas à espera ansiosa de dividir-se um dia em alguém; estar junto ultrapassa os limites da efemeridade e vai além de uma mera lascívia desvairada. Triste daquele que acha que sua completude está no mundo, nasc oisas ínfimas e vãs.
Você pode ter alguém que te acompanhe nas festas, que beba algumas taças de vinho à sua companhia, pode ter alguém que satisfaça os seus desejos, alguém que diga que o ama e lhe quer bem, que te complete no vão de todas essas coisas que, pra você, não fazem nenhum sentido. Porque você vai lembrar de quem realmente está junto de você, lembrar de quem te abraça forte exalando aquele perfume característico que te traz conforto e alívio por estar ali, de quem te conhece feito livro em braile e sabe de cor todos os seus pontos fracos, vai lembrar de quem, silenciosamente, diz que te ama; de quem te sorrir com os olhos e te estremece por dentro.
Porque estar junto é isso:
 às vezes é ausência, é memória e saudade.
 É estar do lado de dentro.

Simone Oliveira

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